As big techs vão abalar o Brasil
11 de fevereiro de 2025, 6h09
· Política
O ano de 2025 promete ser um marco na relação entre
as big techs e os estados soberanos ao redor do mundo. No centro desse embate
está o Brasil, um país que, por sua dimensão geográfica, populacional e
econômica, se tornou um campo de batalha estratégico para as gigantes da
tecnologia. O conflito global entre as empresas de tecnologia e os Estados
nacionais, que buscam tanto taxar quanto regular suas operações, ganhará um
capítulo decisivo no primeiro semestre do próximo ano.
O possível embate entre a Meta, dona do WhatsApp,
Instagram e Facebook, e o Judiciário brasileiro, em especial o ministro
Alexandre de Moraes, pode servir como um experimento global para testar o poder
dessas corporações contra os governos democráticos. O objetivo? Enviar uma
mensagem clara ao mundo: as big techs têm o poder de paralisar nações inteiras
e, com isso, evitar regulamentações que ameacem seus lucros e influência.
cálculo das
big techs é simples: ao desligar suas operações no Brasil, elas causariam um
caos político, social e econômico sem precedentes. O WhatsApp, por exemplo, é
amplamente utilizado para comunicação pessoal, negócios e até serviços
públicos. O Instagram e o Facebook são centrais para o marketing digital e a
economia criativa. A interrupção desses serviços não apenas paralisaria a vida
cotidiana de milhões de pessoas, mas também afetaria diretamente a economia,
especialmente pequenas e médias empresas que dependem dessas plataformas para
sobreviver.
O experimento global
O desligamento das operações da Meta no Brasil não
seria um evento isolado. Seria um experimento global, uma demonstração de força
das big techs contra os governos que ousam desafiar seu poder. Ao paralisar um
país de dimensões continentais como o Brasil, as empresas de tecnologia
enviariam uma mensagem clara a outras nações: regulamentar ou taxar as big
techs pode ter consequências catastróficas.
O impacto seria ainda maior se o desligamento fosse
ordenado pelo Judiciário brasileiro, em vez de uma decisão unilateral das
empresas. Nesse cenário, as big techs poderiam usar seus algoritmos e
influência midiática para disseminar a narrativa de que o Brasil vive sob uma
“ditadura” combinada entre o Executivo e o Judiciário, especialmente se o
desligamento coincidir com eventos políticos sensíveis, como a possível prisão
do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Impacto imediato no Brasil
O desligamento das plataformas da Meta no Brasil
teria um impacto multidimensional. No plano político, a narrativa de “ditadura
digital” poderia ser usada para desestabilizar o governo atual, especialmente
se combinada com eventos como a prisão de figuras políticas de oposição. No
plano social, a interrupção dos serviços de comunicação em massa causaria
pânico e desorganização, já que milhões de pessoas dependem dessas plataformas
para se informar, trabalhar e se comunicar. No plano econômico, o impacto seria
devastador, especialmente para pequenos negócios que dependem do Instagram e do
Facebook para vender seus produtos e serviços.
Além disso, o desligamento das plataformas da Meta
poderia criar um vácuo que seria rapidamente preenchido por outras empresas de
tecnologia, tanto nacionais quanto internacionais. No entanto, a transição não
seria imediata nem suave, e o caos gerado pela interrupção dos serviços poderia
durar semanas ou até meses. Esse cenário de instabilidade seria ideal para as
big techs, que poderiam usar o exemplo do Brasil para pressionar outros
governos a recuar em suas tentativas de regulamentação.
O que o governo brasileiro está
fazendo?
Diante desse cenário, o governo brasileiro precisa
agir de forma estratégica e coordenada. Em primeiro lugar, é essencial
fortalecer a infraestrutura digital do país, garantindo que serviços essenciais
não dependam exclusivamente de plataformas controladas por empresas
estrangeiras. Isso inclui investir em alternativas nacionais de comunicação e
comércio digital, além de promover a diversificação das plataformas utilizadas
pela população.
Em segundo lugar, o governo deve se preparar para
uma guerra de narrativas. As big techs têm um poder imenso de influência sobre
a opinião pública, e é crucial que o governo brasileiro conte com uma
estratégia de comunicação robusta para combater a disseminação de
desinformação. Parcerias com veículos de mídia tradicionais e plataformas
alternativas podem ser fundamentais para garantir que a população tenha acesso
a informações confiáveis.
Por fim, o governo deve buscar o apoio de outros
países que enfrentam desafios semelhantes com as big techs. A criação de uma
coalizão global para regular as empresas de tecnologia pode ser uma forma de
equilibrar a balança de poder e evitar que o Brasil seja isolado nesse
conflito.
Papel de outras plataformas e
veículos de broadcasting
Outras plataformas digitais e veículos de mídia
tradicional têm um papel crucial a desempenhar nesse cenário. Plataformas como
Telegram, Signal e TikTok podem se tornar alternativas viáveis para a
comunicação em massa, mas é essencial que elas também se comprometam a seguir
as leis brasileiras e a combater a desinformação. Veículos de broadcasting,
como rádio e televisão, podem ajudar a preencher o vácuo de informação caso as
plataformas da Meta sejam desativadas, garantindo que a população tenha acesso
a notícias confiáveis e atualizadas.
Além disso, a mídia tradicional pode desempenhar um
papel importante na desconstrução de narrativas falsas disseminadas pelas big
techs. Ao investigar e expor os interesses por trás das ações dessas empresas,
os veículos de comunicação podem ajudar a população a entender o verdadeiro
significado desse embate: uma luta pelo poder entre Estados soberanos e
corporações globais.
Em minha opinião, o possível embate entre a Meta e
o Judiciário brasileiro em 2025 não é apenas uma disputa local. É um
experimento global, um teste de força que pode definir o futuro da relação
entre as big techs e os governos democráticos. Ao desligar suas operações no
Brasil, as empresas de tecnologia buscariam enviar uma mensagem clara ao mundo:
elas têm o poder de paralisar nações inteiras e, com isso, evitar
regulamentações que ameacem seus interesses. Estaria no ringue a tecnocracia x
democracia.
Se calcularmos bem, os líderes das big techs
presentes na posse de Donald Trump, possuem juntos um poder colossal de
atingir, 5 bilhões de usuários de suas plataformas. Encontraram um presidente
para chamarem de seu, investiram pesadamente centenas de milhões de dólares
para sua eleição, movimentaram freneticamente os seus algorítimos para garantir
a vitória e ainda colheram duas cadeiras poderosíssimas no governo, a de Elon
Musk e a do vice-presidente J.D. Vance, um coleguinha do Vale do Silício que já
tinham colocado na cadeira de senador.
O Brasil tem a oportunidade de se tornar um exemplo
de resistência. Ao fortalecer sua infraestrutura digital, combater a
desinformação e buscar o apoio de outros países, o governo brasileiro pode
mostrar que é possível enfrentar o poder das big techs sem sacrificar a
democracia e a soberania nacional. O mundo estará de olho no Brasil em 2025, e
o resultado desse embate pode definir o futuro da governança digital no século
21. Oxalá seja esse o nosso destino nessa questão relacionada com a disputa
entre as big techs (recnocracia) e os estados democráticos.
*artigo publicado originalmente no portal iG
é palestrante internacional, membro do Conselho de Empresas e
Organizações, Futurista e Humanista Digital.
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