25 de maio de 2020,
7h39
Por unanimidade, a 1ª Turma do Supremo Tribunal
Federal concedeu pedido de Habeas Corpus para absolver E.O.R. do crime de
estupro de vulnerável. Na última terça-feira (19/5), em sessão realizada por
videoconferência, o colegiado entendeu que existe dúvida razoável sobre a
prática do delito e, por isso, o réu não pode ser considerado culpado.
O Ministério Público do Estado de São Paulo denunciou
E.O.R. pela suposta prática de atos libidinosos contra uma adolescente de 15
anos com deficiência mental em 2010, na clínica psicológica de sua mulher.
O juízo da 3ª Vara Criminal de Guarulhos o condenou a 12
anos de reclusão em regime fechado pelo crime de estupro de vulnerável, pois a
limitação da vítima inviabilizaria a resistência aos atos. A condenação foi
confirmada pela 4ª Câmara de Direito Criminal.
O HC foi impetrado pela defesa contra decisão do
Superior Tribunal de Justiça que manteve a condenação. Os advogados alegavam
atipicidade da conduta e pediam a anulação do processo, por não haver provas da
prática do crime.
Também questionavam a incapacidade ou a deficiência
mental da vítima, conforme laudos oficiais emitidos pelo Instituto Médico Legal
e pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.
Dúvida razoável
Em agosto de 2019, o ministro Marco Aurélio, relator do HC, negou pedido de liminar. O caso começou a ser analisado pela 1ª Turma em outubro e foi retomado na sessão de hoje com o voto do ministro Alexandre de Moraes pela concessão do HC. Segundo ele, o Estado tem a obrigação de comprovar a culpa do indivíduo, sem que permaneça qualquer dúvida, para afastar a presunção de inocência prevista na Constituição Federal. "O ônus da prova, sem que reste dúvida razoável, é do Estado acusador", frisou.
Em seguida, Marco Aurélio retificou seu voto e se
manifestou pela concessão do HC com fundamento no inciso VII do artigo 386 do
Código de Processo Penal (CPP), que prevê a absolvição do réu quando não
existir prova suficiente para a condenação. O relator foi acompanhado por
unanimidade, ao entender que o caso apresenta dúvida razoável, diante da
divergência dos laudos técnicos em relação à saúde mental da vítima.
Princípio da não
culpabilidade
De acordo com o ministro, um laudo concluiu que a vítima tem deficiência mental leve, e o outro apontou deficiência intelectual limítrofe. Em seu voto, ele afirmou que a situação de dúvida razoável é elemento indispensável do tipo penal e considerou que o princípio constitucional da não culpabilidade deve ser interpretado em benefício do acusado. Dessa forma, diante da ausência de comprovação do crime, o relator votou pela absolvição do réu.
Prova testemunhal
Os ministros levaram em consideração ainda depoimentos de todas as testemunhas ouvidas no processo, que disseram que E.O.R. ia poucas vezes até o local, principalmente para buscar a esposa. Segundo os relatos, a clínica era pequena, com apenas duas salas interligadas, e não havia possibilidade de os dois ficarem sozinhos sem que fossem vistos. Afirmaram também que, se algo tivesse ocorrido, elas teriam percebido. Com informações da assessoria de imprensa do STF.
HC 170.117
Revista Consultor
Jurídico, 25 de maio de 2020, 7h39
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