terça-feira, 12 de julho de 2016

Sem tornozeleiras, mais de 900 pessoas voltam para as ruas no RJ


Sem tornozeleiras, mais de 900 pessoas voltam para as ruas no RJ
Desde dezembro de 2015, quando surgiram os primeiros sinais da crise financeira que assola o Rio de Janeiro, 902 pessoas acusadas de crimes, e que deveriam estar sob monitoramento, foram libertadas sem as tornozeleiras eletrônicas, que deixaram de ser entregues ao estado por falta de pagamento à empresa fornecedora. As informações são da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap).
Todos estão em regime de prisão domiciliar, por ordem da Justiça. A Seap não informou, no entanto, se algum deles já conseguiu fugir por não estar sendo monitorado.

Nos últimos dias, dois casos chamaram a atenção. Após mais de uma semana atrás das grades, os cinco presos na operação Saqueador da Polícia Federal, entre eles o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e o contraventor Carlinhos Cachoeira, deixaram a prisão na madrugada desta segunda-feira (11), beneficiados por decisão judicial que os mandou para prisão domiciliar.
Na véspera, madrugada de domingo (10), foi a vez do pastor Felipe Garcia Heiderich, preso no último dia 4 e suspeito de abusar sexualmente do enteado de 5 anos, ser solto pela Justiça.
Em ambos os casos, as ordens de soltura tinham a recomendação de que todos deveriam usar tornozeleiras eletrônicas antes de voltar às ruas, mas a determinação não foi cumprida porque não há equipamentos disponíveis. Assim, a Justiça estabeleceu que os beneficiados seriam soltos, mas deveriam ficar sob regime de prisão domiciliar.

No caso dos presos da operação Saqueador, libertados nesta segunda-feira, a desembargadora Nizete Carvalho, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, decidiu que, sem as tornozeleiras, todos devem ficar sob vigilância de agentes da Polícia Federal.

Aplicação da medida
A monitoração eletrônica é uma das nove medidas cautelares diversas da prisão previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal. Em tese, ela foi criada para substituir a prisão preventiva, permitindo ao preso responder ao processo em liberdade. Todavia, também pode ser determinada para presos condenados que adquiram direito à progressão do regime de prisão para sistema semiaberto ou aberto.
De acordo com o advogado Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Rio de Janeiro (OAB-RJ), ela só não pode ser aplicada em casos que não permitem a prisão provisória, prevista para acusação de crime doloso com pena máxima superior a quatro anos de reclusão.

“O juiz só vai aplicar a monitoração eletrônica se o preso tiver direito à liberdade. O juiz avalia caso a caso. Quando o estado não dispõe da tornozeleira, o raciocínio jurídico que se tem é que ele não pode perder o direito porque o estado não dispõe do equipamento”, esclareceu o advogado.
À espera de pagamento
De acordo com a direção da empresa paranaense Spacecom, que desde 2014 tem contrato com a Seap para fornecer as tornozeleiras, a dívida do estado hoje chega a cerca de R$ 2,8 milhões.
Na semana passada, representantes da secretaria informaram que os pagamentos deverão ser regularizados ainda esta semana. A Secretaria Estadual de Fazenda do Rio, no entanto, informou que ainda não há previsão de quando a dívida será quitada.

Desde que o contrato foi firmado, em julho de 2014, aproximadamente 1.700 presos receberam tornozeleiras fornecidas pela Spacecom no Rio. A direção da empresa faz questão de frisar que, embora os pagamentos tenham sido suspensos no fim de 2015, o serviço de monitoramento dos detentos que receberam o equipamento continua a ser prestado normalmente – apenas a entrega de novas tornozeleiras foi suspensa.

"A Lei de Licitações prevê que, após 90 dias sem pagamento, a empresa fornecedora de serviço ao estado pode suspender o mesmo. Foi o que o conselho diretor da empresa deliberou quanto ao fornecimento de novas tornozeleiras para o estado do Rio, sem no entanto interromper o monitoramento. Tão logo os pagamentos sejam regularizados, estamos prontos a entregar novos aparelhos", garantiu um diretor da Spacecom, que pediu para não ter o nome divulgado, por razões de segurança.
Alessandro Ferreira


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