O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
afirmou ontem que colocará em pauta em junho a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 37, que retira o poder de investigação criminal do Ministério
Público. "Asseguro que em junho a
matéria irá ao plenário", declarou.
Alves convocou uma reunião na próxima terça-feira com membros das
Polícias Federal e Civil, do Ministério Público Federal e do MP nos Estados. O
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também deve participar. Para Alves,
é necessário chegar a um ponto em comum para que não haja "vencedores e vencidos" na votação.
Associações de delegados e procuradores foram à Câmara ontem para se
manifestar sobre a PEC 37. Primeiro, Henrique Eduardo Alves recebeu delegados,
que pediram a aprovação da proposta. O presidente da Associação de Delegados de
Polícia do Brasil, Paulo Roberto de Almeida, disse que o MP confunde a
população ao propagar que a PEC usurpa prerrogativas da instituição: "Não está escrito na Constituição que o
MP pode investigar. É mentira que estamos tirando poderes do MP. A competência
para fazer investigação criminal é da polícia. Não se tira poder de quem não
tem."
Minutos mais tarde, cerca de 500 procuradores chegaram à Câmara para
pedir a rejeição da PEC. Os manifestantes entregaram a parlamentares da
oposição um abaixo-assinado de mais de 400 mil assinaturas contra a proposta.
Um dos líderes da manifestação, o procurador-geral de Justiça do Rio
Grande do Norte, Manoel Onofre de Souza Neto, disse que a mudança beneficiará
os corruptos e levará à impunidade: "Quem
perde é a sociedade, quem ganha são os criminosos."
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, criticou duramente a
PEC durante a sessão de ontem do Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP). "Seria uma insanidade a
ideia de concentrar em um único órgão os poderes investigatórios do Estado
brasileiro", afirmou.
Gurgel defendeu que "o maior
número possível de instituições" possa investigar. "É preciso que a polícia continue
investigando, o MP investigue, o Banco Central, a Receita Federal, a
Previdência, a Controladoria-Geral da União, enfim, que as instituições atuem
em regime de cooperação, com o objetivo maior de minimizar esse mal terrível
que é a corrupção."
Em meio às manifestações, a Comissão de Constituição de Justiça do
Senado aprovou ontem, em caráter terminativo, um projeto de lei que garante
autonomia aos delegados e amplia seus poderes na condução do inquérito
policial. O projeto já poderia ser encaminhado à presidente Dilma Rousseff para
sanção, mas senadores críticos da proposta disseram que vão recorrer.
Para eles, o projeto reduz o poder do MP, ao prever que "o delegado de polícia conduzirá a
investigação criminal de acordo com seu livre convencimento". "Se tem livre convencimento, ele pode
recusar as requisições do MP", argumentou o senador Pedro Taques
(PDT-MT). Já defensores do projeto negam redução do poder do MP e dizem que ele
trata apenas das garantias e deveres dos delegados.
Também ontem, o CNMP decidiu manter o ex-senador Demóstenes Torres
afastado do cargo de procurador do MP de Goiás até o fim de maio, mas entendeu
que ele tem vitaliciedade - o que dificulta eventual pena de demissão.
Fonte: Valor Econômico – Política
http://www.aasp.org.br/aasp/imprensa/clipping/cli_noticia.asp?idnot=14271
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