terça-feira, 12 de março de 2013

Câmara decide destino de projeto de lei sobre drogas


Um projeto polêmico que cria um cadastro de usuários de drogas no país pode entrar na pauta de votação do plenário da Câmara esta semana. A proposta prevê ainda a internação involuntária de dependentes, que pode ser solicitada por um familiar e até mesmo por um funcionário público que tenha contato com esse usuário. O texto aumenta a pena mínima do traficante de 5 para 8 anos de cadeia. 

De autoria do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), médico e ex-secretário de saúde do Rio Grande do Sul por oito anos, o projeto não tem apoio do governo nem de entidades que atuam nessa área. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) submete nesta terça-feira aos líderes dos partidos o assunto para decidir se a proposta vai mesmo à votação amanhã. Se aprovado, segue para o Senado.

Nesse cadastro, que será parte do Sistema Nacional de Informações Sobre Drogas, estarão o prontuário do usuário, informações de quantas vezes foi internado e altas que recebeu. O dependente terá um plano de atendimento individual e uma equipe multidisciplinar para avaliá-lo. 

O projeto estimula e fortalece as comunidades terapêuticas, que são clínicas e centros de tratamento. Muitas delas são vinculadas a igrejas católicas e evangélicas. O relator da proposta é o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL), católico e que controla instituições como essas comunidades. O texto dele prevê apoio financeiro do governo a esses grupos. 

Carimbão incluiu no texto cota para ex-drogados. Serão reservadas, se aprovado o projeto, 5% das vagas geradas em contrato de obras públicas para pessoas que passaram por tratamento contra drogas. Os pré-requisitos para os candidatos incluem ter cumprido seu plano individual de tratamento e não mais fazer uso de drogas. 

As informações do cadastro do usuário são sigilosas, e quem vazar alguma informação ou permitir acesso pode pegar de 6 meses a um ano de cadeia. O projeto quer restringir o acesso de usuários que não cumpriram penas alternativas (prestação de serviços à comunidade e frequentar cursos e programas educativos) a determinados lugares e impor cumprimento de horários. Ilona Szabó de Carvalho, diretora da ONG Igarapé, que trabalha com poítica nacional e global sobre drogas, criticou o projeto. 

A internação involuntária, que será compulsória, abre espaço para violação de direitos humanos. Esses tratamentos em comunidades terapêuticas, que são por períodos longos, não funcionam. 

É inaceitável aumento de pena, até porque o usuário continua indo para cadeia. E esse cadastro é perigosíssimo. A informação sobre dependentes em mãos erradas pode causar um estrago — completou a diretora da Igarapé. 

Osmar Terra defendeu seu projeto. 

Vai ao encontro do projeto de combate ao crack da presidente Dilma Rousseff. 

Fonte: O Globo – País
Evandro Éboli
http://www.aasp.org.br/aasp/imprensa/clipping/cli_noticia.asp?idnot=13985

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