A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) encaminhará ao Senado
uma nota técnica propondo alterações no projeto de reforma do Código Penal. Uma
das maiores preocupações é o tratamento dado aos crimes financeiros,
considerado demasiadamente brando por juízes especializados na área.
Paralelamente, a Ajufe irá propor a criação, no sistema penal brasileiro, de um
mecanismo pelo qual o acusado pode fazer um acordo para confessar o crime em
troca da redução da pena. Esse acordo, muito usado nos Estados Unidos, é
chamado de "plea bargain"
(uma espécie de barganha processual).
Reunida ontem em Brasília, a comissão da Ajufe responsável por discutir
a reforma dos códigos penal e de processo penal chegou a um consenso quanto a
essas propostas. Do grupo participam juízes considerados referência em crimes
financeiros, como o desembargador Fausto De Sanctis, do Tribunal Regional
Federal da 3ª Região, e o juiz federal Sergio Moro, de Curitiba, que assessorou
a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber durante o julgamento do
processo do mensalão.
De Sanctis critica a parte de crimes financeiros da reforma do Código
Penal, que tramita no Senado. "Alguns
seriam reduzidos a pó", diz o desembargador, citando que certos
delitos desaparecem por completo do texto, enquanto outros têm previstas penas "baixíssimas". Ele menciona,
por exemplo, que o funcionamento de instituição financeira não autorizada,
assim como a contabilidade paralela de instituição financeira, deixam de ser
listados como crimes. O conceito de evasão de divisas abrangeria apenas a saída
física do dinheiro. Um doleiro que fizer uma remessa a cabo, aponta De Sanctis,
ficaria livre de punição.
A Ajufe também questiona o artigo do projeto de reforma que criminaliza
o ato de violar prerrogativas dos advogados. A proposta é defendida pela Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), mas vem gerando reações duras da magistratura. "Não somos hierarquicamente
subordinados a quem quer que seja. Muitas vezes, o advogado é calado e
humilhado por magistrados e membros do Ministério Público", diz o
presidente da OAB, Ophir Cavalcante.
Juízes reclamam de exagero da advocacia e dizem que a proposta da OAB viola a independência do juiz. "A previsão gera temor e insegurança. Se o juiz indefere o pedido de um advogado, não é o caso de se imputar um crime, mas de fazer um recurso", diz o juiz federal Rafael Wolff, coordenador da comissão da Ajufe que discute a reforma da legislação penal. A associação também irá propor mudanças na contagem do prazo de prescrição de crimes, com o objetivo de reduzir a impunidade. A nota técnica deve ficar pronta em dois meses.
Já o anteprojeto que cria o sistema do "plea bargain" será encaminhado paralelamente. Enquanto na delação premiada um dos acusados contribui com informações sobre terceiros envolvidos no crime, esse tipo de acordo envolve apenas o próprio réu e tem que ser negociado com o juiz e o Ministério Público. O juiz federal Sergio Moro, entusiasta da proposta, menciona que 85% dos casos criminais na Justiça Federal americana terminam em acordo. "O sistema possibilitaria resolver casos singelos de forma mais rápida, permitindo um foco maior do Judiciário nos caso mais complexos." A reforma do Código Penal também prevê o mecanismo, mas um projeto específico poderia ser aprovado mais rapidamente.
Juízes reclamam de exagero da advocacia e dizem que a proposta da OAB viola a independência do juiz. "A previsão gera temor e insegurança. Se o juiz indefere o pedido de um advogado, não é o caso de se imputar um crime, mas de fazer um recurso", diz o juiz federal Rafael Wolff, coordenador da comissão da Ajufe que discute a reforma da legislação penal. A associação também irá propor mudanças na contagem do prazo de prescrição de crimes, com o objetivo de reduzir a impunidade. A nota técnica deve ficar pronta em dois meses.
Já o anteprojeto que cria o sistema do "plea bargain" será encaminhado paralelamente. Enquanto na delação premiada um dos acusados contribui com informações sobre terceiros envolvidos no crime, esse tipo de acordo envolve apenas o próprio réu e tem que ser negociado com o juiz e o Ministério Público. O juiz federal Sergio Moro, entusiasta da proposta, menciona que 85% dos casos criminais na Justiça Federal americana terminam em acordo. "O sistema possibilitaria resolver casos singelos de forma mais rápida, permitindo um foco maior do Judiciário nos caso mais complexos." A reforma do Código Penal também prevê o mecanismo, mas um projeto específico poderia ser aprovado mais rapidamente.
Fonte: Valor Econômico –
Política
Maíra Magro
- De Brasília
http://www.aasp.org.br/aasp/imprensa/clipping/cli_noticia.asp?idnot=13741
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