Nada de bola de futebol. Para reduzir a pena, presidiários hoje fazem
tricô e crochê, produzem de bombachas a casinhas de boneca, pedalam até 8h por
dia para carregar baterias, lapidam pedras preciosas. Cada três dias
trabalhados dão direito a um dia a menos de pena, além de remuneração que varia
de 25% a 100% do salário mínimo - parte do dinheiro é depositada em conta
poupança para ser usada quando o detento ganhar liberdade e outra parte,
repassada à família.
"Nossa relação é profissional. Eles são
meus funcionários e me respeitam, mas não consigo não sentir amor por
eles", diz a estilista
mineira Raquell Guimarães, de 31 anos. Dona da grife Doisélles, ela usa mão de
obra de presos da Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, em Juiz de Fora. Há 3
anos, foi à prisão em busca de tricoteiras, mas a diretora da unidade, Ândrea
Valéria Andries, propôs que trabalhasse com os homens.
"Homem é bem mais concentrado que
mulher. Disse que em dez dias os meninos apresentariam uma peça nova." O novo modelo de blusa não só saiu no prazo
como foi usado pela apresentadora Xuxa em um programa.
Looks
Segundo Ândrea, a princípio autoridades da região foram contra. Tinham medo de que as agulhas de madeira virassem arma branca. "Diziam que eu estava armando o pavilhão, que haveria rebelião." Os presos também ficaram desconfiados - temiam dúvidas sobre sua masculinidade. "Sugeri que eles pensassem em roupas para mulheres que acham bonitas." Deu certo. Hoje, 100% da produção da Doisélles sai da penitenciária e as peças já são exportadas. "Agora quando eles estão conversando falam de look, tendência... É incrível."
Segundo Ândrea, a princípio autoridades da região foram contra. Tinham medo de que as agulhas de madeira virassem arma branca. "Diziam que eu estava armando o pavilhão, que haveria rebelião." Os presos também ficaram desconfiados - temiam dúvidas sobre sua masculinidade. "Sugeri que eles pensassem em roupas para mulheres que acham bonitas." Deu certo. Hoje, 100% da produção da Doisélles sai da penitenciária e as peças já são exportadas. "Agora quando eles estão conversando falam de look, tendência... É incrível."
Raquell garante que nunca teve medo de algo dar errado. "Quando entro no pavilhão, presos que
ainda não estão no projeto gritam meu nome, dizem que estão na fila caso
apareça alguma vaga. Tenho ali 400 presos ávidos por fazer tricô." Um
deles é Luiz Paulo Pacheco da Silva, de 32 anos, um dos mais antigos do
projeto. "Quando estou trabalhando, esqueço
que estou preso." Já Célio Tavares de Souza, de 43, saiu da prisão em
2010 e agora trabalha na Doisélles em regime CLT.
Também em Minas, dos 121 detentos do presídio de Santa Rita do Sapucaí,
60 trabalham em atividades diversas. Uma das mais curiosas é a que transforma
esforço físico em eletricidade.
O sistema é simples. Um alternador, instalado no pedal de uma bicicleta
ergométrica, armazena em bateria de carro energia suficiente para iluminar por
12h cinco postes de uma praça pública da cidade, que fica a 430 km de Belo
Horizonte.
"Nosso intuito é colocar todos os presos para trabalhar até o ano que vem, porque na região há muita oportunidade", diz o diretor do presídio, Gilson Rafael Silva. "A sociedade está nos dando apoio e a unidade prisional está melhorando. Estamos montando uma sala de aula e já ganhamos até cadeira odontológica."
Após trabalhar no estádio, a volta à prisão
Para colegas de construção da Arena Fonte Nova, palco de jogos da Copa
em Salvador, o montador de andaimes Roberto, de 33 anos, é apenas mais um dos
cerca de 3 mil trabalhadores. Se algo o destaca, é a dedicação com que encara a
função - é sempre um dos primeiros a chegar e um dos últimos a sair. O esforço
lhe rendeu promoção apenas dois meses após ser contratado por um salário
mínimo. Hoje, ganha dois salários, que o ajudam a manter a família. O que a
maioria desconhece é que ele não vai para casa após o trabalho. Segue
diretamente para o Complexo Penitenciário da Mata Escura, onde há 11 anos
cumpre pena. "Contei minha situação
a poucos colegas. Mesmo assim, teve quem me tratasse diferente." O
temor do julgamento faz com que não fale muito de sua vida, situação parecida à
de outros 12 detentos que trabalham na obra, em parceria do Consórcio Arena
Salvador com o governo baiano.
"A maior importância nem está no
salário, está nos relacionamentos. A gente descobre de novo como se relacionar
com as pessoas aqui fora", diz Roberto, que espera conquistar a liberdade no início do ano que
vem, pouco antes da inauguração do estádio, prevista para 29 de março.
Em Porto Alegre (RS) 60 presos do semiaberto do Instituto Penal de
Viamão também ajudam a construir o novo estádio do Grêmio.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Metrópole
Camila Brunelli
Tiago Décimo
http://www.aasp.org.br/aasp/imprensa/clipping/cli_noticia.asp?idnot=12859
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