Um batalhão de mais de 150 advogados dos 30 maiores escritórios de
criminalistas do Brasil entra em cena a partir desta segunda-feira para, numa
ação coordenada, tentar livrar seus clientes da condenação no julgamento do
mensalão, no Supremo Tribunal Federal. Cada um dos advogados principais de cada
réu terá uma hora para sua sustentação oral perante os 11 ministros, o que
significa que eles passarão oito dias, pelo menos, defendendo seus clientes e
mirando no Ministério Público, que consideram o inimigo comum de todos.
A maior parte do grupo troca figurinhas e não investe em conflito entre
eles. Muitos reconhecem que estão trabalhando num julgamento histórico. Dizem
ser atípico, por reunir o maior número de advogados já visto num caso.
Na linha de frente estão grandes criminalistas e outros advogados mais
modestos — tanto que o preço cobrado varia de R$ 6 milhões a R$ 500 mil, além
de dois que trabalham de graça. Mas nenhum deles fala em cifras. É o caso de
Luiz Francisco Corrêa Barbosa, advogado do ex-deputado Roberto Jefferson,
presidente do PTB e autor da denúncia do mensalão; e de Márcio Silva, que
participou da defesa de petistas no início do processo.
Réus tem mais de um advogado
Poucos réus têm apenas um advogado fazendo sua defesa. Normalmente, são
grupos de cinco a sete que se dedicam exclusivamente a um único cliente. Esses
batalhões acompanharam, além dos réus, os mais de 700 testemunhos de todo o
processo país afora.
O mineiro Marcelo Leonardo, responsável pela defesa de Marcos Valério,
trabalha com outros sete advogados no caso. Lembrando que os bens de seu
cliente estão bloqueados desde 2005, mas evitando falar quanto cobra, ele conta
que viajou o Brasil inteiro, do Acre ao Paraná, para acompanhar o depoimento de
testemunhas e buscar provas para isentar o réu mais encrencado na Ação Penal
470, o conhecido processo do mensalão.
Ele é um dos que confirmam que o corpo de advogados do mensalão trabalha
afinado, mirando derrotar o Ministério Público.
— Nos reunimos sempre para
discutir as estratégias porque nosso adversário comum chama-se Ministério
Público Federal. Somos todos muito amigos e, se tem um conflito entre a gente,
isso é munição para a acusação — disse Marcelo Leonardo.
Todos fazem questão de dizer que participar do caso dá muita visibilidade, por ser um processo atípico, com muita repercussão na mídia.
— Esse é o maior caso de que (o
escritório) Luiz Fernando Pacheco já participou. É histórico — diz o
advogado do ex-presidente do PT José Genoino, o próprio Pacheco, que também
trabalha com outros sete advogados auxiliares.
Pacheco igualmente nega-se a detalhar os “cinco dígitos” que cobra de seu cliente:
— Cobrei uma quantia muito módica porque ele não pode pagar. O PT está ajudando. O Genoino é tão pobre que não tem um gato para puxar pelo rabo.
Márcio Silva, que não é criminalista, atuou na defesa dos ex-deputados
petistas Professor Luizinho e Paulo Rocha de graça, no início. Mas depois
sublocou os escritórios criminalistas de Piero Paulo Botini, que responde por
Luizinho; e de João Gomes, que defende Paulo Rocha.
— Faço isso porque são meus
amigos. Isso é relativo. Qualquer advogado criminalista tem interesse em estar
neste que é chamado de o processo do século, que tem uma enorme repercussão de
mídia. É um processo atípico. Não tenho notícia de um processo envolvendo
tantos advogados como este — diz Márcio Silva.
Já Luiz Francisco Corrêa Barbosa, advogado de Roberto Jefferson, afirma
não estar cobrando nada do seu cliente, de quem é amigo e colega.
— Ele não tem dinheiro. É meu
amigo, meu colega de escritório e companheiro de partido. Ele me pediu para
patrociná-lo, e eu aceitei. Quando vejo uma ovelha cercada por dez cachorros,
sou advogado da ovelha.
Uma das estrelas dessa constelação de advogados, o ex-ministro da
Justiça Márcio Thomaz Bastos trabalha apenas com duas secretárias e uma
advogada. Prefere, em vez de montar uma grande estrutura, associar-se a
escritórios de amigos.
Já Antonio Carlos de Almeida Castro — o Kakay — tem em seu escritório,
atuando na defesa do publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes,
um grupo de cinco advogados, além de estagiários.
Em Belo Horizonte, três dos quatro advogados do escritório Hermes V.
Guerrero trabalham na defesa de Ramon Hollerbach Cardoso, sócio de Marcos
Valério. Guerrero não diz quanto está cobrando, mas afirma que é um valor “razoável” e dá pistas de que a conta
deve ser salgada:
— Até porque advogo para o Ramon
em três processos, e não um, e vou ter de ficar agora um mês em Brasília. Sou
professor da Universidade Federal de Minas, tudo bem que agora está em greve,
se não, teria de ficar indo e voltando.
Advogado de Simone Vasconcelos, ex-diretora financeira da SMP&B, uma
das agências de Marcos Valério, Leonardo Isaac Yarochewsky ficaria em Brasília
este fim de semana concentrado na sustentação oral que fará esta semana.
Os cinco advogados de seu escritório trabalham na causa. A principal
linha de defesa é que Simone apenas cumpria ordens de Marcos Valério e não
tinha autonomia, embora fosse diretora financeira da agência de publicidade.
— Ela cumpria ordens, e essas
ordens, naquele momento, eram aparentemente legais. O dinheiro que foi
distribuído a mando de Marcos Valério era de empréstimos feitos no Banco Rural.
E ela fazia os pagamentos, sem saber se aquelas pessoas eram deputados,
presidentes de partido. Ela agiu sem consciência da ilicitude. Ninguém faz
perguntas ao chefe sobre ordens recebidas — afirmou Yarochewsky.
Alguns escritórios de advocacia estão defendendo mais de um réu do
mensalão. É o caso do Dias e Carvalho Filho, que tem como clientes Kátia
Rabello e Vinícius Samarane, ex-presidente e ex-diretor do Banco Rural; do
Ávila de Bessa, com o deputado Valdemar Costa Neto (SP) e o ex-deputado Bispo
Rodrigues (PR-RJ); e do Abreu e Silva, que defende Rogério Tolentino, advogado
ligado a Marcos Valério, e Geiza Dias, gerente financeira da SMP&B.
Também é o caso de Délio Lins e Silva, que defende Jacinto Lamas,
ex-tesoureiro do então PL (hoje PR), e seu irmão Antônio Lamas, ex-assessor da
liderança do PL na Câmara; e de Roberto Pagliuso, que tem como clientes o
ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto e seu ex-chefe de gabinete José
Luiz Alves.
Fonte: O Globo – País
Júnia Gama
Maria Lima
Fernanda Krakovski
http://www.aasp.org.br/aasp/imprensa/clipping/cli_noticia.asp?idnot=12638
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