Não é de hoje que as redes sociais se tornaram um dos ambientes
prediletos dos criminosos digitais. A razão é simples: os hackers querem
atingir o maior número possível de pessoas, o que faz da audiência crescente
dos sites de relacionamento um grande atrativo. Mas com os usuários ficando
mais cuidadosos com golpes antigos - como os links infectados por vírus - os
hackers começam a testar novos métodos em sites como Facebook, Orkut e Twitter.
Publicar anúncios falsos, usando marcas conhecidas, é uma dessas
artimanhas. Os criminosos compram um espaço publicitário no site de
relacionamento. Quando clica na propaganda, o usuário é direcionado para um
site falso, que imita o verdadeiro. É nessa página que os golpistas roubam
dados do cartão bancário da vítima.
"Os criminosos mudaram a parte
operacional dos ataques", disse José Matias, diretor de suporte técnico da McAfee, companhia
especializada em segurança digital. Segundo especialistas ouvidos pelo Valor, o
investimento feito na compra do espaço publicitário é facilmente revertido com
o golpe, que dá um retorno muito maior que a quantia aplicada inicialmente.
A Kaspersky, outra empresa de segurança digital, acompanhou recentemente
três casos de anúncios falsos publicados no Facebook, todos direcionados a
brasileiros. Em um deles, os hackers usaram a marca de uma companhia aérea,
cujo nome não é revelado, para atrair as vítimas com a intenção de obter dados
de cadastro no programa de milhagem aéreas. O nome da credenciadora de cartões
Cielo também foi usado em um anúncio. No terceiro caso, o chamariz era a oferta
de um iPhone 4S por R$ 440 - valor muito abaixo do preço médio do smartphone da
Apple.
"O processo de compra de espaços
publicitários no Facebook é muito simples e isso facilita a ação dos criminosos
digitais", disse
Fábio Assolini, gerente de softwares nocivos da Kaspersky. As diretrizes de
publicidade da rede social, disponíveis em seu site, dizem que "os anúncios não devem promover um
modelo de negócios ou uma prática considerada como inadequada pelo
Facebook", incluindo ações de fraude. Procurado pelo Valor, o Facebook
informou, em nota, que tem uma equipe de profissionais dedicada a revisar
anúncios e assegurar que eles estejam de acordo com a política da companhia. A
empresa não quis conceder entrevista.
A Cielo informou não ter registrado prejuízos com a falsa propaganda
feita em seu nome. De acordo com Eduardo Magalhães, diretor de controles
internos da Cielo, a companhia investe em sistemas que traçam os hábitos de
consumo de cada cliente e bloqueiam a compra quando o produto foge desse
perfil. "Geralmente, os criminosos
usam os dados roubados para comprar bens de maior relevância",
explicou Magalhães. A Cielo também contratou os serviços de uma empresa
especializada em rastrear sites nocivos que usam o nome da empresa. Procurada,
a assessoria da Apple no Brasil não respondeu imediatamente aos pedidos de
entrevista.
Uma questão polêmica é qual o limite da responsabilidade dos sites na
divulgação de propagandas falsas. A Cielo informou que o Facebook é um parceiro
importante e tem auxiliado a empresa no combate a fraudes envolvendo sua marca
na internet.
Advogados ouvidos pelo Valor, no entanto, afirmaram que a rede social
poderia ser corresponsabilizada em casos como esse. "O fato de haver uma remuneração e uma relação comercial [com o
criminoso digital] faz com que a responsabilidade do Facebook seja muito
maior", disse Renato Opice Blum, sócio do escritório Opice Blum
Advogados. Segundo ele, a tendência dos tribunais brasileiros é responsabilizar
as redes sociais.
Regras mais claras sobre o tema podem ficar prontas em breve. Tramita na
Câmara dos Deputados um projeto de lei que isenta os provedores de conteúdo em
casos como o da Cielo.
A expectativa é que a legislação seja votada em agosto. Segundo a
proposta, os provedores também não são obrigados a guardar informações de
usuários para consulta pela Polícia Federal, em caso de investigações sobre
crimes no ciberespaço. "Fica a cargo
do provedor fazer ou não os registros das atividades dos usuários",
disse Leandro Bissoli, especialista em direito digital do escritório Patricia
Peck Advogados.
Fonte: Valor Econômico –
Empresa
Bruna Cortez
- De São Paulo
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