O número de pessoas que discordam claramente da tortura para
obtenção de provas caiu de 71,2% para 52,5% entre 1999 e 2010. Isso significa
que quase a metade dos entrevistados (47%) em 11 capitais brasileiras toleraria
a violência contra suspeitos em determinados casos. Os números fazem parte da "Pesquisa nacional, por amostragem
domiciliar, sobre atitudes, normas culturais e valores em relação a violação de
direitos humanos e violência", divulgada ontem pelo Núcleo de Estudos
da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP).
O estudo revela que aproximadamente um terço dos entrevistados
defende ameaçar verbalmente, bater, dar choques, queimar com pontas de cigarro,
ameaçar parentes e deixar sem água ou comida suspeitos acusados por crimes como
estupro e tráfico de drogas, por exemplo.
Para a coordenadora da pesquisa, Nancy Cardia, isso mostra que as pessoas não acreditam na prisão como uma forma de reabilitar ou punir de forma eficaz quem cometeu um crime. "Aceitam a tortura não para a obtenção de provas, mas porque na verdade acreditam que é uma pré-punição. Apoiam por não acreditarem na pena de prisão, que apontam como nada mais do que um depósito de gente."
Para a coordenadora da pesquisa, Nancy Cardia, isso mostra que as pessoas não acreditam na prisão como uma forma de reabilitar ou punir de forma eficaz quem cometeu um crime. "Aceitam a tortura não para a obtenção de provas, mas porque na verdade acreditam que é uma pré-punição. Apoiam por não acreditarem na pena de prisão, que apontam como nada mais do que um depósito de gente."
Segundo a pesquisa, 50% das penas mais lembradas pelos
entrevistados não estão no Código PenaL. Entre elas estão prisão perpétua, pena
de morte e prisão com trabalhos forçados. O levantamento aponta também que os
jovens são os que escolhem a pena de morte com mais frequência - de forma
geral, é considerada inaceitável por 51% dos entrevistados.
Coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da
Defensoria Pública de São Paulo, Daniela Skromov diz que a queda no número de
pessoas que discordam claramente de tortura como método de investigação é
preocupante. "Tem um pouco a ver com
a moda de que o bacana é ser flexível, como se isso implicasse abrir mão de
valores fundamentais."
Nas capitais pesquisadas, houve também uma melhora na avaliação
positiva das instituições de segurança pública. A Polícia Militar, por exemplo,
foi apontada como boa ou muito boa por 38,7% das pessoas em 2010 - eram 21,2%
em 1999.
Em contrapartida, caiu o porcentual dos que discordam totalmente
que a polícia possa "invadir uma
casa" (de 78,4% para 63,8%), "atirar
em um suspeito" (de 87,9% para 68,6%), "agredir um suspeito" (de 88,7%, para 67,9%) e "atirar em suspeito armado"
(de 45,4% para 38%).
Vítimas. Houve entre os pesquisados diminuição no porcentual
daqueles que ficaram expostos diretamente à violência, mas cresceu o número dos
que testemunharam ou ouviram de pessoa próxima casos de violência. Também foi
maior em 2010 a quantidade de entrevistados que disseram ter presenciado em
seus bairros uso de drogas, prisão, assalto e agressão, em comparação com 1999.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Metrópole
William Cardoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário