Criar
um “retrato falado” de uma pessoa
anos depois de sua morte tendo como base apenas ossos do cadáver. Esse é o
objetivo da pesquisa realizada pelo Laboratório de Antropologia Forense da USP
de Ribeirão Preto, em parceria com as universidades de Toronto, no Canadá, e de
Sheffield, na Grã-Bretanha.
“Selecionamos 33
pontos no rosto humano e estamos fazendo o mapeamento do DNA para descobrir
quais características do código genético estão associadas a determinadas
peculiaridades da face”, explica Marco Aurélio Guimarães, responsável pelo
laboratório de Ribeirão Preto.
O
pesquisador apresentou ontem, no 1º Congresso Paulista de Medicina Legal e
Perícias Médicas, em São Paulo, a evolução desse trabalho – que teve início em
2007 e deverá ter os resultados apresentados no ano que vem.
Com
a ferramenta, será possível determinar se o cadáver não identificado era de uma
pessoa de crânio globoso, como dos caucasianos, ou alongado, como dos
negroides, qual o formato do nariz e da boca, o que resulta numa espécie de
retrato falado feito por computador. Essa imagem servirá para a família
reconhecer, pela semelhança, se determinado corpo é do parente desaparecido.
Isso ajudaria não só em desastres como os dos aviões da TAM, em Congonhas, em 2007, e da Air France, no meio do Atlântico, em 2009, como também em ocorrências mais corriqueiras.
“Será útil em casos
como os acidentes de carros com corpos carbonizados ou na identificação dos
cadáveres encontrados nos canaviais do interior paulista. Muitos assassinos
escondem suas vítimas lá – e, quando são encontradas, o que restam são apenas
ossos”,
diz Guimarães.
Para
o presidente do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo e membro da Sociedade
Brasileira de Perícias Médicas, Roberto Camargo, a tecnologia facilitará o dia
a dia do IML. “É o órgão que recebe as
ossadas não identificadas e a técnica vai nos ajudar muito nesse
reconhecimento.”
Procedimento.
Para relacionar quais partes do DNA têm relação com a constituição da face, o
estudo contou com 532 brasileiros voluntários que doaram saliva e posaram para
uma série de fotografias tridimensionais do rosto.
Esse
processo de coleta levou dois anos e meio e a escolha dos brasileiros se deve à
miscigenação no País: a maioria da população tem genes caucasianos, negroides,
orientais e também dos índios.
Atualmente,
todo esse material é processado em um laboratório do Canadá e o resultado deve
mostrar qual é a relação entre os pontos do rosto e a herança genética.
“Por isso, o ‘retrato
falado’ não será a fotografia exata. Se a pessoa teve um distúrbio
odontológico, começou a mastigar de um lado só, que se desenvolveu mais do que
o outro, isso não será considerado – o que não impedirá o reconhecimento”, diz Guimarães.
Com
o estudo concluído em 2013, o pesquisador estima cinco anos para que ocorram as
primeiras identificações por esse método. “Ainda
não é possível estipular quanto custaria, mas no início não seria barato. Pode
levar um tempo até que se torne uma tecnologia acessível, mas é preciso
investir.”
Avanços.
O “retrato falado” a partir do DNA
aparece como mais um avanço nas técnicas de identificação. Antigamente, as
pessoas eram marcadas a ferro ou tatuadas para facilitar o reconhecimento.
Hoje, são usados exames previstos no guia da Polícia Internacional (Interpol),
como impressões digitais e odontologia forense, além de dados médicos e análise
de pertences da vítima.
No
futuro, além dos estudos genéticos, a biometria (estudo da medida das
estruturas e órgãos do corpo) deve ser utilizada no processo de identificação
de cadáver.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Vida
Ocimara Balmant e Alexandre Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário