Mesmo com as
inaugurações neste ano de dois CDPs (Centros de Detenção Provisória) em Pontal
e Taiúva, a região de Ribeirão Preto continua registrando superlotação em
unidades prisionais.
São 8.282 vagas
para 11.595 presos. Doze unidades, de um total de 17, estão com mais detentos
do que suportam (veja quadro abaixo).
O levantamento
foi feito pela Folha na base de dados da SAP (Secretaria de Estado da
Administração Penitenciária), tendo como atualização o último dia 11 de junho.
O CDP de Taiúva,
que começou a funcionar no dia 18 de janeiro, já está superlotado, com 941
detentos para 768 vagas -número 22,5% maior que a capacidade.
O coordenador da
Comissão de Direitos Humanos da OAB de Ribeirão Preto, Vanderley Caixe Filho,
diz que algumas atuações de juízes "contribuem"
para o quadro.
"O problema é a opção que muitos fazem pela prisão. Há uma
série de medidas [punitivas] alternativas e que não são aplicadas", afirma.
Para Caixe
Filho, há outras formas para punir. "Pode-se
restringir a liberdade por outros meios, como proibir de sair à noite e
realizar trabalhos comunitários. Em vários casos isso poderia ocorrer, mas não
acontece por uma opção do juiz."
A coordenadora
de execução penal da regional da Defensoria Pública de Ribeirão Preto, Juliana
Araújo Lemos da Silva Machado, também desaprova a forma como o Judiciário julga
alguns casos.
"Por causa de conservadorismo, muitos juízes deixam de lado
penas alternativas. Deveria haver uma mudança de postura jurídica. Leis dão
essas possibilidades", diz.
O juiz da 2ª
Vara Criminal de Ribeirão Preto, Sylvio Ribeiro de Souza Neto, diz não
concordar com o advogado e a defensora. O magistrado afirma que, em caso de
crimes menos graves, o réu vai para o regime fechado apenas quando é reincidente.
"Quando isso ocorre, a lei estabelece que não cabe pena
alternativa, porque socialmente não é recomendável."
O juiz diz
defender a atuação mais incisiva do Estado para disponibilizar uma quantidade
maior de defensores públicos e cobra investimentos materiais e pessoais também
no Judiciário.
Essas duas
ações, diz ele, provocariam maior agilidade nos processos e diminuição da
população carcerária.
'BARRIL DE PÓLVORA'
Daniel
Grandolfo, presidente do Sindasp (Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária
do Estado de São Paulo), afirma que a superlotação dos presídios paulistas
"é um barril de pólvora prestes a
explodir".
Ele diz que o
excesso de presos nas unidades representa muitos riscos para os trabalhadores. "Pode haver rebeliões, agressões,
tentativas de fuga", relata.
Grandolfo
critica a falta de investimentos no setor e a morosidade do governo em
construir presídios. "O Estado
constrói quatro unidades por ano, é muito pouco para reduzir esse deficit de
vagas."
O sindicalista
afirma ainda que há falta de funcionários. De acordo com ele, existem hoje no
sistema prisional cerca de 20 mil agentes de segurança penitenciária, mas o
ideal seria contar com, ao menos, mais 10 mil.
Estado diz que plano prevê 49 novas unidades
O governo do
Estado de São Paulo afirma, por meio de nota da SAP (Secretaria de Estado da
Administração Penitenciária), que para diminuir a superpopulação carcerária
está em andamento um plano de expansão de unidades prisionais, com a construção
de 49 presídios.
A secretaria
afirma que, apesar da superlotação nos presídios da região de Ribeirão Preto,
todas as unidades da SAP funcionam dentro das normas de segurança.
"Isso é possível graças ao valoroso trabalho realizado pelos
nossos funcionários, que esforçam-se diuturnamente para manter a disciplina
dentro dos presídios do Estado", diz a nota.
Segundo a
secretaria, as unidades têm aparelhos de raio-X e detectores de metais.
Diz ainda que os
servidores que atuam nas unidades passam por treinamentos constantes e
capacitações realizadas por meio da Escola de Administração Penitenciária,
mantida pelo Estado.
A SAP afirma
ainda que, ao fim do plano de expansão, serão mais 39 mil vagas. Do total de 49
novas unidades do plano, sete foram entregues e 16 estão em construção. As
demais estão previstas. Duas delas serão na região de Ribeirão Preto - a
penitenciária feminina de Guariba e o Centro de Progressão Penitenciária de
Jardinópolis.
Fonte: Folha de S. Paulo
João Alberto Pedrini
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