segunda-feira, 4 de junho de 2012

Especialistas defendem debate mais aprofundado, após comissão de juristas propor a descriminalização do consumo


A descriminalização do uso de drogas no Brasil, proposta aprovada nesta semana pela comissão de juristas que está elaborando o anteprojeto para reforma do Código Penal no Senado, divide opiniões. Entidades ligadas à defesa dos direitos humanos comemoram, enquanto grupos que lutam por mais rigor na legislação antidrogas lamentam.

A proposta para o novo Código, que será entregue aos senadores no fim de junho, é inspirada na legislação de Portugal, e considera como usuário a pessoa que estiver com uma quantidade de entorpecente equivalente ao consumo médio individual de cinco dias. No país europeu, a quantia é relacionada ao uso para 10 dias. 

O defensor de maior peso da mudança na legislação é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando apresentou o filme Quebrando Tabu, em maio do ano passado, Fernando Henrique, que hoje preside a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, ressaltou que é preciso tratar o usuário como alguém que precisa de assistência médica e não como um criminoso. O ex-presidente, porém, considera que essa discussão deveria partir da população e não do legislativo. 

A especialista em segurança pública Marcelle Figueira, no entanto, acredita que os juristas levantaram o bate-papo. Para ela, o importante é discutir o tema de forma construtiva, sem moralismo. “O que faz uma droga lícita ou não é a legislação. O usuário tem que ser tratado como uma pessoa doente, assim como os alcoólatras e os que usam medicamentos controlados de forma ilegal.” 

Outro ponto positivo, apontado pela especialista, é a definição objetiva do que é uso e tráfico. “O que determina hoje quem é consumidor e vendedor é a avaliação subjetiva do policial em cima do que a pessoa porta. A forma como lidamos hoje com as drogas é uma guerra perdida de segurança pública”, concluiu. 

O deputado federal, Onofre Santo Agostino (PSD-SC), foi um dos que se pronunciaram sobre a decisão. Para ele, a descriminalização do uso é o mesmo que banalizar e não soluciona o problema. “A pessoa drogada vai comprar a droga aonde? Na farmácia? O governo vai dar a droga ou ele vai comprar do traficante? Em consequência, acredito que vai aumentar o número de traficantes, porque haverá mais consumo”, previu. 

Porção 

Os juristas colocaram nas mãos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a responsabilidade de regulamentar qual seria o montante permitido. Em nota, o órgão afirmou que “este é um tema novo no âmbito de uma agência reguladora de medicamentos e que nenhuma agência internacional com este perfil regula ou regulou esta questão”. A Anvisa informou que não foi chamada para os debates, mas destacou que a discussão é relevante do ponto de vista da saúde pública. 

Apesar da liberação do consumo, os juristas acrescentaram no texto uma pena de seis meses a um ano para quem fizer uso ostensivo de drogas em lugares públicos onde há concentração de menores. A pena também será aplicada para o caso de alguém que utilizar a droga em casa perto de crianças ou adolescentes.

Medidas alternativas 

Atualmente, o uso e a comercialização de entorpecentes é crime, conforme prevê a Lei de Drogas, em vigor desde 2006. No entanto, a legislação não prevê pena de prisão, fixando medidas alternativas, como advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e comparecimento a programa ou curso educativo. Já a quem produz ou comercializa drogas, a lei atribui pena de 5 a 15 anos de reclusão e pagamento de multa de R$ 500 a R$ 1.500. 

Fonte: Correio Braziliense – Brasil
Grasielle Castro

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