12/08/2011
- 09h15
O juiz
Marcelo Cerveira Gurgel, da 2ª Vara Criminal de Itabaiana (SE), fixou a fiança
de um homem preso por porte ilegal de arma em R$ 54,5 milhões --valor máximo
permitido para o caso.
Segundo a
polícia, Hélio Márcio Pereira dos Santos, flagrado com a arma, confessou que
recebeu R$ 2.000 para matar uma mulher grávida de sete meses.
Na decisão,
de julho, o juiz diz que a mudança no Código de Processo Penal não permite a
prisão preventiva por porte ilegal de arma, cuja pena é inferior a quatro anos.
Ele, então,
decidiu conceder a liberdade provisória mediante fiança, que depende do crime e
da capacidade financeira do preso.
O juiz
considerou o valor "inestimável"
da vida da vítima que supostamente seria morta e fixou o maior valor possível
para o caso --cem salários mínimos aumentados em mil vezes.
A advogada
do preso, Marise Alves de Jesus, nega que ele tenha confessado a intenção de
matar alguém. "Concordo plenamente que a vida não tem preço, mas você não
pode pagar por um crime que não aconteceu. Ele foi preso por porte ilegal de
arma, é por isso que ele tem que ser julgado", afirma.
Caso a
decisão não seja revertida no pedido de habeas corpus, Santos terá que ficar
preso até o julgamento, diz a advogada. "Não
existe [chance], é impossível que ele tenha como pagar."
À Folha, o
juiz disse que tem uma responsabilidade com a sociedade e não pode ser só
"um aplicador da lei". "Se
fosse isso, teria fixado uma fiança baixa, ele provavelmente teria saído e a
moça provavelmente estaria morta", afirmou.
O juiz
reconheceu que a situação é "excêntrica"
e disse que pode reavaliar a situação ao longo do processo.
Para o
presidente da OAB de Sergipe, Carlos Augusto Monteiro Nascimento, a decisão
prejudica a defesa ao não respeitar a capacidade financeira do preso.
Virginia
Catelan, coordenadora da Defensoria Pública do Dipo (Departamento de Inquéritos
Policiais) de SP, concorda e diz que a fiança tem sido usada como prisão preventiva.
"Em 95% dos casos [em SP] as pessoas não têm condições de pagar e
continuam presas."
Em julho, o
motorista de um Porsche pagou R$ 300 mil de fiança após
se envolver um acidente que matou uma advogada em São Paulo. Indiciado sob
acusação de homicídio doloso, a fiança
máxima no caso poderia ter chegado a R$ 109 milhões.
Folha. com - Cotidiano
Carolina Leal
São Paulo
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